terça-feira, 9 de outubro de 2007

Não era o James Brown

Eu estava sozinha em casa por horas tentando escrever a dissertação. Lá pelas tantas - e graças a Deus - chegou a hora de pegar a Mariana na escolinha. Louca pra me desconcentrar um pouco das lides acadêmicas, me joguei dentro do carro, bati a porta e ia virar a chave.
E aí uma coisa preta peluda pulou em cima de mim emitindo sons selvagens.
Gritei, pulei, surtei total. Foi susto pra taquicardia, pra pedir os sais, pra se abanar com um leque por horas, com acontece com as tias de vestidos floriados das novelas de época da Globo.
Apesar do pavor-pânico absoluto, consegui perceber alguma coisa. Constatação número 1: O que havia pulado sobre mim era preto, peludo, barulhento e relativamente pequeno. Constatação número 2: não se tratava do James Brown ou do fantasma dele. Constatação número 3: a coisa não estava morrendo de amores pela minha pessoa.
E eu continuava dentro do carro, e a coisa preta e peluda corria também dentro do carro, pelas paredes, por toda parte, fazendo FSSSSTTTTT.
Depois de segundos que pareceram séculos, consegui ver o que era.
Era o gato preto que vive fazendo cocô no meu quintal e que tenta comer a Meg, minha gata (que depois da tosa tá pra lá de feia, mas depois de uns whiskas pelo jeito dá pra encarar, ao menos do ponto de vista do gato preto).
O tal monstro tarado e sem noções de higiene nem de estética estava dentro do meu carro. Comigo.
E estávamos ambos imensamente assustados.
Abri a porta do carro.
O bicho e eu nos jogamos pra fora juntos.
O gato se atirou contra a porta dos fundos da garagem, que dá pro pátio. Deu com a fuça no vidro. Aí ele subiu pela grade pantográfica da porta. Quando não tinha mais grade, ele começou a andar de lado pela grade, sempre fazendo FFFSSSST, com as orelhas bem pra trás, me mostrando todos os dentes e unhas.
Me vieram então mil idéias diabólicas, todas absolutamente condenáveis do ponto de vista das entidades que militam pelos direitos dos animais. Mas achei que seria menos trabalhoso deixar o gato sair.
Tentei expulsar o ser peludo com ajuda de uma vassoura. Claro que ele não saiu. Subiu as escadas correndo, e juntos fizemos uma maratona por toda casa, ele, eu e a vassoura. Todos com os olhos esbulgalhados e arfando - menos a vassoura, claro.
Depois finalmente o felino desceu novamente pra garagem, e aí, com tudo bem escancarado, ele conseguiu sair.
O pior é que, mesmo depois desse susto todo, tenho certeza que minha graminha vai seguir servindo de patente pro bichano, e a Meg vai continuar dando pro danado.

4 comentários:

venuss disse...

Comentário bem maldoso: vai te acostumando a tocar os gatos de casa.
;-)

Maroto disse...

gargalhei alto com esse post. Genial. Pode até comer uns negrinhos sem engordar que eu não te bico :)

Débora Elman disse...

Maroto, era a Mel que tava comendo o negrinho.

Enio Luiz Vedovello disse...

Ri muito deste texto. Sei bem o que é um gato enlouquecido por estar preso em um ambiente que não é o dele.

Ainda bem que a minha gatinha é castrada e comportadíssima...