quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Gincana

As gincanas andam meio fora de moda por estes tempos. Lembro que, no tempo em que roupas fashion (que na época não se chamavam fashion, e sim roupas trique-trique-rolimãs) eram vendidas no Saco & Cuecão (!), existia a gincana Hipo Imcosul. Um evento que mobilizava a cidade mais que culto evangélico no anfiteatro Por do Sol em dia de passe livre.
O frenesi de bandos de gente se submetendo a pedidos como juntar o maior número possível de tampinhas com figurinhas da série Amar É... (um dia faço um post sobre as educativas tampinhas de garrafa do fim dos anos 70 - aguarde), traduzir um texto do aramaico pro papiamento, ou encontrar um dinamarquês anão celibatário parece que passou. Provavelmente porque de urgências urgentíssimas e prazos apertados tá todo mundo por aqui. Ninguém mais tem saco (com ou sem cuecão) pra ficar ainda mais estressado. E as empresas e instituições deixaram de promover as tais gincanas.
Com exceção da escolinha.
A escolinha é fonte interminável de solicitações urgentes e quase impossíveis.
Ter um filho na escolinha é se manter durante o ano todo em estado de gincana. É pensar em mudar seu nome para Equiganhei, Equilegal ou outro nome supercriativo típico de equipe de gincana nas priscas eras. Ter um filho na escolinha é ver que a aceleração do tempo da pós-modernidade pode ser pior.
Uma das minhas teorias inclusive é de que na escolinha tem sempre um quartinho escondido, em que mentes maquiavélicas se reúnem pra bolar pedidos torturantes endereçados aos pais.
Quem teve ou tem filho em escolinha sabe: a agenda dos pequenos é recheada de tarefas transtornantes.
E aí os pais têm que encarar desafios dignos dos 12 trabalhos de Hércules, sempre basicamente de um dia pro outro. Tarefas que viram obrigação, claro. Porque eles estão com o seu filho. E você não vai querer que o pequeno sofra de alguma forma, vai?
Então você precisa parar tudo e:
Providenciar uma bolinha de isopor número 14 (nunca pensei que bolinhas de isopor fossem numeradas - aliás, eu nem sabia que ainda existia isopor. E não vende no super, nem na livraria, nem no 1,99 - ao menos aqui na zona sul de Porto Alegre. Aí você acha as benditas bolinhas, mas só tem número 12).
Conseguir um pote de margarina REDONDO (como, se eles são todos quadrados ou retangulares???).
Se descabelar atrás de 6 caixas vazias de leite limpas (veja bem, de um dia pro outro. De modo que se é obrigado a fazer ambrosia ou pudim de leite. O que é especialmente dramático quando não se sabe fazer ambrosia nem pudim de leite).
Providenciar um avental plástico com mangas compridas (achou fácil essa, é? Pois saiba: avental plástico com manga comprida, só o Coelho da Páscoa, o Papai Noel e a Gisele Bündchen têm. Avental de plástico com manga comprida é uma ficção).
Mandar uma foto do filho em clima natalino (foto de filho em idade de escolinha sai a) horrível, porque a criatura não pára quieta; ou b) horrível, porque a criatura parou quieta mas fez careta; ou c) horrível, porque foto natalina a gente tira no Natal, e no Natal você bebe além da conta e o efeito etílico afeta negativamente a estética fotográfica, além da sua própria; ou d) horrível, porque no Natal a casa está sempre um caos).
Fazer com o filho uma árvore (atenção, não é plantar. É fazer. Como? Com quê? De que tamanho? São milhões de dúvidas cruéis. Você tenta enfrentá-las com galhardia, resolve não se mixar, e faz a árvore com a ajuda do filhote. E aí depois você chega na escolinha e vê as maravilhosas árvores das outras mamães, e percebe no seu filhote um certo constrangimento porque a árvore com o nome dele parece mais com um espanador pobrinho, velho e sujo do que com uma primaveril árvore como as representações criativas, viçosas, floridas, transadas & ilustrativas de todo o amor que uma mãe pode sentir pelo filho, produzidas pelas outras equipes).
Tarefas como essas pululam na vida das mães e pais, e eles, de um jeito ou outro, dão conta. Mas eu quero ver o dia em que pedirem pro filho trazer uma foto de atriz-modelo-manequim-starlet-do-momento com calcinha.

domingo, 25 de novembro de 2007

Badanha 3 - A missão

O Badanha que já tinha voltado, voltou de novo. Desinstalei e reinstalei o Office e troquei os nomes lá no formulário de licenciamento. Mas toda vez que clico em "controlar alterações" no Word é o Pai do Badanha quem aparece como 'dono' de todos os arquivos de novo, como se fosse uma entidade incorporada no micro.
Alguém sabe me explicar o porquê disso?
Melhor, alguém sabe me explicar como mudar isso?
Quero renegar a paternidade do Badanha, mas tá difícil.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Pista, pistaria, pistaiolo




Na antevéspera dos quatro anos, minha filha ainda tem uns rompantes de Hortelino Trocaletras.


Ela adora comer pista de mussarela na pistaria aqui perto, aquela que tem uns pistaiolos preparando a massa.


E a penúltima letra do alfabeto dela é o íspilon.


É asbolutamente fofo.


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A perseguida e a perseguidora

A ausência de calcinha tem sido um dos temas preferidos - ou o tema preferido - da mídia que cobre (nesse caso, ficaria melhor dizer descobre) as personalidades midiáticas. A venuss já mapeou bem o fenômeno.
Mas pra além da perseguida, outra personagem também tem lá seu espaço no imaginário inútil da sociedade do espetáculo.
É ela, nosso karma, nossa cruz, a que nos persegue desde adolescência.
Aquela que faz o lucro das Lancômes, Naturas & etc. disparar.
Que nos faz correr, malhar, suar e fingir que acreditamos em coisas como drenagem linfática.
A que confere existência real a nós mulheres, como definiu um dia uma alma caridosa e superpoliana, capaz de ver um lado bom até nisso.
Falo da nossa inimiga íntima, celulite.
A mídia adora mostrar que lindas também têm.
Mas o pior disso é que essas notícias me fazem ver que eu, além de ter celulite, ainda por cima sou uma baita invejosa, porque sinto aquele prazerzinho feio, muito feio, quando vejo que as bonitas e famosas também têm defeitos.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Gasta borralheira

Não me importo de admitir: por anos tomei Nescafé aos litros e até gostava. Mas no fim do mestrado, um café passado daqueles que parecem tintura de tão fortes tem o seu valor, como bem lembrou o meu maridão. E gentilmente resgatou a cafeteira que estava lááá no fundão do armário da cozinha. Perto de inutilidades como uma frigideira Bom Apetite (ou será que isso é panela? Ou caçarola? Sei lá, pra mim é tudo OCNI - Objeto de Cozinha Não-Identificado) , uma coisa muito estranha que minha mãe diz que é pra cozinhar vegetais no vapor e uma coisa que acho que é uma forma de bolo.
Cafeteira sobre a pia, pó de café comprado, e aí o querido me dá a aula de preparo de café em cafeteira.
Foi ótimo, e ele foi superdidático. Adorei principalmente a parte de abrir o pacote de café em pó embalado a vácuo (eu nunca tinha presenciado o fenômeno. Faz até psssst quando o ar entra, né?).
Entendi tudo. Ou achei que tinha. E meu mestre-barista saiu pra trabalhar. Ficamos eu e a cafeteira a funcionar.
Claro que daí pra frente deu tudo errado. Acabou a água e o troço ficou fazendo barulhos estranhos - gluks, gluks, gluks. Tive medo duma explosão (quando eu era criança uma panela de pressão com feijão preto explodiu na nossa cozinha. Ninguém se machucou, mas a mancha preta no teto impressionou que foi uma barbaridade. Fiquei meses mostrando aquilo pras amigas enquanto falava do perigo que as panelas de pressão representavam pra gente).
Gluks, gluks, gluks - a cafeteira continuava que parecia minha gata quando tá prestes a vomitar uma bola de pêlo melecada com Whiskas semi-digerido.
Desliguei a cafeteira, pra evitar problemas.
Peguei a jarra pra me servir. Mas ninguém tinha me dito que tinha que tirar aquele porta-coador de cima. Claro, qualquer anta se antenaria disso. Mas eu não. Afinal, não sou uma anta qualquer.
Eu faço mestrado em comunicação, não em culinária. Eu sei quem foi Bakhtin, mas o Monopol é um ilustre desconhecido. Sei de rizomas e bulbos nos termos do Deleuze, mas vade retro, aipim e beterraba.
Resultado: pó de café molhado na pia toda, no fogão, no chão, na minha mão, na estante. Uma meleca espraiada por tudo.
Mas que p... de borra, pensei eu, agora no papel, literalmente, de gasta borralheira (aos quase 43 seria delírio total eu me auto-classificar como gata).
Eca.
Intermináveis e sujos minutos depois, quando terminei de meio que limpar a cozinha emporcalhada, o café da jarra tinha esfriado.
E ainda faltava lavar o porta-coador. E pior: falta lavar o coador.
Que coisa mais cenozóica isso, lavar coador de café.
Deve ter uma lei proibindo a existência de coadores de café que tem que lavar, e obrigando todo mundo a usar coador de papel. Que nem a lei que obriga ao uso de cinto de segurança. Deviam fazer blitze organizadas pra coibir de uma vez o coador lavável. BOPEs invadindo as cozinhas pra combater os energúmenos. Capitães Nascimento diligentes empenhados em erradicar de vez esse mal da nossa sociedade.
Marido querido, avisa pro pessoal do escritório que amanhã vais chegar mais tarde porque a mentecapta da tua esposinha não sabe nem preparar um café passado mas adorou a idéia e não quer mais voltar pro Nescafé.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Câmeras, magreza e calcinhas

Ah, a Paris Hilton deixou a câmera ligada de novo. Coitada... (Não vou colocar link pro fato, me nego a fazer parte da divulgação de um troço desses. É só entrar em qualquer portal tipo terra, uol, globo pra ver a "notícia").

De manhã vi uma chamada sobre a filha da Vera Fischer ter emagrecido de novo. Perder peso (leia-se secar) é o caminho mais rápido de quem anda meio caída rumo às capas de revista. Foi assim recentemente com a Xuxa, a Luiza Brunet, uma atriz loira que eu acho que chama Paola Oliveira (é isso?) que eu vi na capa de uma revista de dieta. E outras tantas que não lembro agora.

Outra estratégia muito em voga é a tal calcinha que ficou na gaveta e a saia curta que foi parar na bunda. Essa semana foi a Flávia Alessandra.
Segundo um post recente da Eva, a Hebe era notícia em 1957 por algum fato irrelevante, mas na época o foco ainda eram os cabelos da cabeça.

Então, gente, é isso: ainda vamos ver várias chamadas sobre câmeras indiscretas, magreza como ressurreição e ausência de calcinhas até janeiro. Entre um BBB e outro é disso que a maioria desses grandes portais de internet se alimenta diariamente.
Acho que vou voltar a usar a tal página inicial 'about:blank'.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Cotas

Por que será que alguns indivíduos se referem a pessoas negras como "moreninhos"? Qual é o problema de dizer que alguém é preto ou negro? Ser preto, negro, mulato ou sei lá eu seria algo pra esconder???
Por que será que algumas pessoas acham que é motivo de orgulho elas dizerem que ensinaram o filho a tratar a empregada "que é pretinha" de igual pra igual? Tratar todo mundo do mesmo jeito não é pra ser default? Qual é a razão pra ficar se vangloriando do que devia ser óbvio ululante a ponto de não ser mencionado???
Por que será que tem gente que acha que dar nomes estrangeirizados "é coisa de preto"? Desde quando criatividade ou um gosto meio diferente tem alguma coisa a ver com cor de pele? E o que seria pra essa gente exatamente "coisa de preto" , dita baixinho e com um esgar no rosto???
E o mais importante de tudo: por que eu ainda tenho que ouvir gente pessoas falando assim por aí? Três dessas numa mesma semana é dose pra estourar a cota de qualquer um.

Cartinha pro Papai Noel

Por que todo o publicitário que não é bonzinho durante o ano ganha o castigo de fazer "lindos e emocionantes"cartões de boas festas?

Papai Noel: no ano que vem, prometo me comportar melhor.

Hortinha cabeluda

Aqui em casa a gente sempre gostou de encarar as panelas. Pra preparar e pra comer também, sem dúvida. Montamos uma hortinha na sacada que faz parte do ritual cozinha. Antes de preparar qualquer coisa, a gente dá uma voltinha pra colher os temperos fresquinhos. Me sinto uma Nigella tupiniquim. Acontece que este ritual tem tomado muito o nosso tempo ultimamente. Isso porque a temporada de pêlos voltou. Quem tem gato sabe o quanto o calor faz com que os felinos percam mais pêlos. E eu não posso fazer nada se a Lisbela gosta tanto da sacada quanto as plantinhas. A não ser ficar despelando as folhas de manjericão, manjerona, sálvia, alecrim... E como eu não pretendo me desfazer da gata nem da horta, a gente tem cuidado bastante pra não servir uma massa aos 4 mil pêlos. Dá uma olhada na combinação fatal:


terça-feira, 13 de novembro de 2007

Sobre meninas e lobos

Minha filhota tem uma relação absolutamente idiossincrática com o lobo.
Morre de medo dele, mas volta e meia o chama pra brincar.
Tapa os olhos quando ele aparece no filminho, mas chama o pai de lobo e faz questão de brincar de menina que corre com os lobos quando ele chega em casa. Grita e se esconde quando acha que o lobo vem vindo, mas é a ele que recorre pra atribuir os próprios gestos, quando estes não são nada elogiáveis.
Quem foi que derramou o suco de uva na cama, pergunto. E ela: Foi o lobo, mamãe. Não bate na mamãe, digo. E ela: Foi o lobo, mamãe.
Um dia ela vai dizer que foi o lobo que pegou o carro sem pedir, que foi o lobo que esqueceu de ligar pra dizer que estava bem, que foi o lobo que fumou um baseado. E vai nos apresentar o namorado, que vai ser também um lobo - mau, bom ou qualquer outra coisa, conforme o ponto de vista.
O lobo polivalente, multiuso, assumido, temido, querido, odiado, testa de ferro, divertido, n.d.a. e etc., enfim, o lobo desconstruído, tá definitivamente incoporado na família.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Novíssimo look da Hebe

Na minha madrugada acadêmica de hoje, pesquisando a história da TV, encontro a seguinte informação:
Hebe muda o visual e adota nova cor para seus cabelos.
Detalhe: isso aconteceu em 1957.
A divulgação de fatos totalmente irrelevantes da vida das celebridades midiáticas - da cor das melenas à calcinha - existente ou ausente - não é de ontem.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O lado palha* de Paglia

Ela deve ter, como eu e todo mundo, um monte de coisas chatas.
Mas o que me chamou atenção na palestra da Camille Paglia ontem foi o grau de nervosismo e ansiedade da persona.
Ela estava (e me odiaria se soubesse que usei essa palavra) totalmente histérica.

* Pros leitores mais jovenzinhos e pra minha parceira de blog venuss: palha é um gíria que vem dos anos 80. Significa coisa chata, ruim. Pelo que sei, surgiu a partir da constatação de que fumar maconha ruim equivale a fumar palha.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Chantagem emocional

Desde o estágio pessoinha, o ser humano já aprende as vantagens da adulação.
Com minha filha Mariana não podia ser diferente, e lembrei disso hoje de manhã.
Quando ela tinha perto de 2 anos e estava no berço, querendo que eu fosse até lá, ela me chamava assim:
- Mamãe, mamaãe, MAMÃÃÃÃE, vem aquiiiiii. A Miana te ama!

Pacientes vs. impacientes

Minha comadre tá no hospital há semanas. E tem coletado histórias fantásticas de semnoçãozice, claro. Porque lugares pra onde o stress converge tendem a despertar em algumas pessoas o que de mais estúpido elas têm.

Minha amiga estava mal. Bem mal. (Agora está melhorando, pra nossa completa felicidade). Mas enfim, estva ali, péssima, sendo levada na cadeirinha de rodas pela enfermeira prum exame complicado em outro andar.

O elevador de transportes de pacientes, identificado com placas grandes que advertem, pelo lado de fora e pelo lado de dentro, que aquele é um elevador pra uso exclusivo de pacientes e equipe do hospital, chegou. A porta abriu. Dentro, adivinha, um bando de gente. Agora pergunta se eram pacientes. Claro que não. Eram impacientes, isso sim.

Pessoas em perfeitas condições (ao menos físicas). Mas mal-educadas, sem noção, pertencentes à mesma subespécie que estaciona em vaga de deficiente, vai com rancho pro caixa expresso do super, pára em fila dupla e fala aos berros no celular no restaurante.

A enfermeira disse que precisava levar a minha amiga no elevador.

E um dos caras plantados aonde não devia se autopromoveu a porta-voz do bando e declarou:
- Ah, nós só vamos até o outro andar e logo mandamos o elevador de volta pra vocês.

Pode isso? Não pode!

Minha amiga, doente mas não indiferente, então fez uma coisa ótima: disse que não. Que aquele elevador era pra pacientes, e que ela era paciente, e estava em cadeira de rodas, e não ia esperar que eles mandassem o elevador de volta. E falou pra todo mundo sair do elevador e pegar o correto.

Não restou nada àquele pessoal, a não ser sair do elevador, claro.

Maravilhoso isso, né?

Minha amiga tava engolindo um monte de coisas: remédios pra dor, pra febre, antibióticos mil. Mas sapo ela não engole!

Viva a Liane.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O Badanha voltou

Estou fazendo outro trabalho grande de revisão. E esqueci de tirar o Badanha de seu posto oficial. Hoje ao meio dia, na ligação do cliente em meio ao caos do pássaro burro ele, todo sério, me pergunta: Quem é o Badanha?
E antes que eu esquecesse de trocar isso de novo, reinstalei correndo o Office inteiro.
Mas que eu vou sentir saudades do Pai do Badanha, isso eu vou.

A febre do pão

Entrei no carro e comentei com o marido, bem feliz:
- Bá, hoje o pão tava tri quentinho quando peguei ele na padaria.
E aí só ouço aquela vozinha querida vinda da cadeirinha do banco de trás, perguntando, preocupadíssima:
- Mãe, o pão tava com febre???

Bactéria, cemitério e parquinho

Coisas que concluí depois do feriadão:
1 - Bactérias são bichos escrotos. Deviam se limitar a sua pequenez, brigar com alguém do tamanho delas e não ficar atacando minhas amigas queridas.
2 - Cemitérios seguem sendo um lugar pacífico. Mas tem um detalhe: não fui ao cemitério na sexta, dia de finados, senão acho que não diria isso.
3 - Parques de diversões são bizarros, pessoas que vão a parques de diversões são mais, e eu obviamente me incluo nessa categoria.

Bem na hora do almoço

Tava eu sentada no sofá, almoçando enquanto assistia a Festas de Nigela (acho que gosto de almoçar assistindo a programas de culinária pq mastigo sem olhar pro prato e sonho que estou comendo aquelas coisas deliciosas que ela faz). Ouço o celular tocando no quartinho onde trabalho - que seria a dependência de empregada do apê. Atendo o dito em horário de almoço (erro número 1), sento na cadeira do micro e fico ouvindo o cliente passar suas considerações e dúvidas sobre o trabalho quando vvvrruummmmm, uma coisa passa voando por cima da minha cabeça. Traumatizada com a história do morcego que pousou nas minhas madeixas enquanto eu dormia (essa história eu conto numa outra hora), só me abaixei e tentei identificar o que era. Nisso a Lisbela que até hoje nunca tinha miado, começa a soltar miados agudos duplos em direção ao bicho que naquele momento consegui identificar: um pequeno pássaro burro. A cena que se seguiu incluía uma ruiva abaixada com o celular na orelha, um pássaro se debatendo contra o teto e as paredes e uma gata ensandecida miando e tentando escalar qualquer coisa que a deixasse mais próxima da ave. Lembrei da Eva lutando contra o bicho preto peludo que dividiu o carro com ela por instantes.

Abri toda a janela do quartinho, a da área de serviço aqui do lado, por onde o passarinho entrou, já estava escancarada. Peguei uma vassoura e tentei conduzir o bicho pra fora da casa. Por 42 minutos eu tentei. Juro que tentei. Com vassoura, pano de prato, sinal de mão e uns gritos de susto. Pulava de uma cadeira pra outra pensando que conseguiria guiar o bicho até a janela, mas ele insistia em voar só na altura do teto. Detalhe, alternava os pulos nas duas cadeiras de escritório, dessas giratórias que quase me renderam um dente quebrado, porque crianças não devem pular em cadeiras de rodinha.
Lembrei de uma canga grandona, de tecido levinho, talvez esta fosse a resposta. Tentei capturar o bicho com ela, mas mesmo ele estando ofegante e mais lento em razão do cansaço, a canga não foi a solução para os meus problemas. E eu cansada e ridícula pulando nas cadeiras de pijama (sim eu ainda não tinha tomado banho, tava terminando um freela urgente), com a janela aberta e sacudindo uma canga colorida. Quando eu vi que já haviam passado mais de 40 minutos, resolvi partir pro desespero e jogar a canga pra cima dele. Numa dessas ele se enrolou no tecido e perdeu altitude, foi aí que encontrou o caminho na altura da janela aberta e saiu voando em linha reta.
Arrumei a bagunça do quartinho, recoloquei a lâmpada do teto que fiquei com medo de quebrar entre um pulo e outro e fechei a janela. Limpei o cagão da ave na minha pilha de livros e sentei aqui pra contar isso tudo. Agora preciso de um banho que abanar canga no horário do almoço faz a gente suar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Coisa de mãe

Enquanto a Eva conta algumas das maravilhas (e outras nem tanto ) de ser mãe, eu ainda faço só o papel de filha. E quero dar o meu depoimento do lado de cá da maternidade.

Quando eu tinha 11 anos, ganhei um gato ruivinho. Lindo. A gente vivia grudado. Ou melhor, eu grudava nele e ele com toda aquela delicadeza e destreza felina, se esquivava nas vezes em que eu apertava demais. O Mina era o meu companheiro. O gato que eu sempre quis ter. E tinha. Sentava no meu colo enquanto eu fazia os temas de aula. Mais tarde, esperava no muro quando eu voltava da faculdade pra mostrar o quanto eu fazia falta. Ele dormia e acordava comigo.

Quando vim pra Porto Alegre, ele ficou na casa da minha mãe, porque aquele era o seu lar. Mas ele sempre me reconhecia. Quando eu voltava pra casa, me recebia como se eu nunca tivesse saído dali. Quando falava por telefone com a minha mãe e ele estava por perto, eu chamava Miiiinnnnaa, e ele levantava as orelhinhas pra me procurar, palavras da minha mãe.

No início de outubro, ele fez 16 anos e já estava velhinho e doente. Há mais de um ano ele vinha meio guenzo, mas ainda era o rei da casa, o meu tigrinho. Nestes últimos tempos, comecei a conviver com a idéia de perdê-lo. As lágrimas vinham ao primeiro pensamento e eu só me via aos 11 anos imaginando que aquele gato seria eterno.

Hoje à tarde minha mãe ligou. Num tom de voz estranho, disse que as coisas não estavam bem. E, como se eu ainda tivesse 11 anos, pediu pra que eu acendesse uma velinha porque o Mina estava no céu.

Só uma mãe pra encontrar uma forma tão sensível e delicada pra dizer que o meu bichinho não está mais aqui.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Nana, nenê

Ontem à noite, pela primeira vez, vi de verdade alguém pegando no sono - fingir sim, eu já tinha fingido que olhava, que velava, que zelava, que estava ali. Mas olhar de verdade, isso eu nunca tinha feito antes.

E descobri porque: nunca vi alguém pegando no sono por pudor.

Porque olhar alguém pegando no sono é flagrar uma coisa tão íntima, imensa e intensamente íntima, que, na hora H, a gente desvia o olhar.

Olhar alguém pegando no sono é ver o olho da pessoa se voltando para dentro dela mesma e para além do que se enxerga. Olhar alguém pegando no sono é sentir aquela respiração virando um soprinho, e ter um medão danado que ele pare.

Olhar alguém pegando no sono é uma despedida.

Ontem eu não desviei o olhar, e vi minha pequena-média filha adormecer. E como eu já estou mesmo condenada por indiscrição, confesso mais uma culpa: a da grande vontade que eu tive de entrar nos sonhos dela.