quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Gincana

As gincanas andam meio fora de moda por estes tempos. Lembro que, no tempo em que roupas fashion (que na época não se chamavam fashion, e sim roupas trique-trique-rolimãs) eram vendidas no Saco & Cuecão (!), existia a gincana Hipo Imcosul. Um evento que mobilizava a cidade mais que culto evangélico no anfiteatro Por do Sol em dia de passe livre.
O frenesi de bandos de gente se submetendo a pedidos como juntar o maior número possível de tampinhas com figurinhas da série Amar É... (um dia faço um post sobre as educativas tampinhas de garrafa do fim dos anos 70 - aguarde), traduzir um texto do aramaico pro papiamento, ou encontrar um dinamarquês anão celibatário parece que passou. Provavelmente porque de urgências urgentíssimas e prazos apertados tá todo mundo por aqui. Ninguém mais tem saco (com ou sem cuecão) pra ficar ainda mais estressado. E as empresas e instituições deixaram de promover as tais gincanas.
Com exceção da escolinha.
A escolinha é fonte interminável de solicitações urgentes e quase impossíveis.
Ter um filho na escolinha é se manter durante o ano todo em estado de gincana. É pensar em mudar seu nome para Equiganhei, Equilegal ou outro nome supercriativo típico de equipe de gincana nas priscas eras. Ter um filho na escolinha é ver que a aceleração do tempo da pós-modernidade pode ser pior.
Uma das minhas teorias inclusive é de que na escolinha tem sempre um quartinho escondido, em que mentes maquiavélicas se reúnem pra bolar pedidos torturantes endereçados aos pais.
Quem teve ou tem filho em escolinha sabe: a agenda dos pequenos é recheada de tarefas transtornantes.
E aí os pais têm que encarar desafios dignos dos 12 trabalhos de Hércules, sempre basicamente de um dia pro outro. Tarefas que viram obrigação, claro. Porque eles estão com o seu filho. E você não vai querer que o pequeno sofra de alguma forma, vai?
Então você precisa parar tudo e:
Providenciar uma bolinha de isopor número 14 (nunca pensei que bolinhas de isopor fossem numeradas - aliás, eu nem sabia que ainda existia isopor. E não vende no super, nem na livraria, nem no 1,99 - ao menos aqui na zona sul de Porto Alegre. Aí você acha as benditas bolinhas, mas só tem número 12).
Conseguir um pote de margarina REDONDO (como, se eles são todos quadrados ou retangulares???).
Se descabelar atrás de 6 caixas vazias de leite limpas (veja bem, de um dia pro outro. De modo que se é obrigado a fazer ambrosia ou pudim de leite. O que é especialmente dramático quando não se sabe fazer ambrosia nem pudim de leite).
Providenciar um avental plástico com mangas compridas (achou fácil essa, é? Pois saiba: avental plástico com manga comprida, só o Coelho da Páscoa, o Papai Noel e a Gisele Bündchen têm. Avental de plástico com manga comprida é uma ficção).
Mandar uma foto do filho em clima natalino (foto de filho em idade de escolinha sai a) horrível, porque a criatura não pára quieta; ou b) horrível, porque a criatura parou quieta mas fez careta; ou c) horrível, porque foto natalina a gente tira no Natal, e no Natal você bebe além da conta e o efeito etílico afeta negativamente a estética fotográfica, além da sua própria; ou d) horrível, porque no Natal a casa está sempre um caos).
Fazer com o filho uma árvore (atenção, não é plantar. É fazer. Como? Com quê? De que tamanho? São milhões de dúvidas cruéis. Você tenta enfrentá-las com galhardia, resolve não se mixar, e faz a árvore com a ajuda do filhote. E aí depois você chega na escolinha e vê as maravilhosas árvores das outras mamães, e percebe no seu filhote um certo constrangimento porque a árvore com o nome dele parece mais com um espanador pobrinho, velho e sujo do que com uma primaveril árvore como as representações criativas, viçosas, floridas, transadas & ilustrativas de todo o amor que uma mãe pode sentir pelo filho, produzidas pelas outras equipes).
Tarefas como essas pululam na vida das mães e pais, e eles, de um jeito ou outro, dão conta. Mas eu quero ver o dia em que pedirem pro filho trazer uma foto de atriz-modelo-manequim-starlet-do-momento com calcinha.

9 comentários:

ale disse...

Guria, tô rindo muito aqui sozinha!! Provavelmente porque me identifiquei totalmente com tudo! É bem assim mesmo. Ha ha ha!! Que horror! É rir pra não chorar! Isso que tu não falou das milhões de contribuições em $ que temos que enviar, seja pro passeio no zôo, no teatro, pro presente que elas vão fazer pra nós, pra festa de Natal, etc, etc, etc..
Uma dica: mangas plásticas avulsas, tem na Livraria do Globo.

Maroto disse...

Melhor post do ano na categoria. Vou rir o ano que vem todo por conta dele!

Má notícia: a escola não melhora nada: na adolescência, fazem uma gincana de final de ano (com esse nome, coisa mais passè) e o teu filho chega em casa histérico porque precisa levar 5 quilos de garrafas Pet vazias (já reparou como essas merdas são leves?) de um dia pro outro senão a equipe dele perde.
Já a maternidade, quanta diferença: agora posso olhar para a cara do rebento e dizer, solene e sem culpa: "problema teu!" Depois ainda tem que me pergunte se eu não tenho saudades dos velhos tempos.

Enio Luiz Vedovello disse...

Relaxa, Eva.
Depois piora. E muito. Acho que não fazem mais as gincanas porque a vida dos pais é uma eterna gincana.
Imagine, por exemplo, ter de levar tres filhos adolescentes a sete ou oito lugares diferentes, em uma cidade como São Paulo, e ainda ter de fazer compras para casa e querer ter um mínimo de lazer.
Sem contar nos trabalhos e provas da faculdade "para amanhã", nos amigos que "eu falei que tudo bem você dar uma carona, pai", etc...

venuss disse...

Para o meu excelentíssimo marido:
favor ler o post da Eva com carinho e atenção. É ideal pra quem tá louco pra ter filho.
um bj daquela que não gosta de gincanas, venuss

Maroto disse...

VENUSS, teu marido anda querendo filhos? Fala pra ele fazer as contas de quanto vai custar que ele desencana rapidinho :D

Como eu sou prolixa com os conselhos, não? Eu já te disse o que fazer para o marido trazer café na cama, já te ajudei a matar o pai do Badanha (coitado!) e agora estou ensinando métodos anticoncepcionais.

ale disse...

Só passei por aqui pra dizer que continuo rindo ao lembrar desse post!

Débora Elman disse...

EVA, Amei o teu post! Vou repassar para as louquinhas das minhas colegas mestrandascomfilhonaescolinha.

Anônimo disse...

muito engraçado...fazer uma árvore?! nossa, como faz isso?

Anônimo disse...

Ai,o que me espera...
Saudade amiga!
Beij�o
ana