Nada mais chato que assistir intermináveis vídeos domésticos mostrando em tempo real alguma coisa muito sem graça acontecendo. Exemplos: a mulher cozinhando sopa; o filho tentando jogar basquete; o pai pintando a veneziana; o cachorro dormindo na frente da lareira. (tá bom, o Andy Warhol filmou um cara dormindo e depois obrigou os amigos a assistir aquelas 8h de roncos, viradas esporádicas e r.e.m., mas era o Andy Warhol, pô!).
O mundo está cheio de vídeos chatos. Nunca jamais esquecerei do dia em que fui obrigada a assistir o de um parto (!) que não tinha sido editado (!!). Obs.:a edição reduz o índice de chatice, mas nem sempre elimina. O tal vídeo era longo, muito, mas muito longo. Um parto. Começava praticamente com o pré-feto quando este tinha no máximo 64 células, e terminava quase com o nem mais tão recém nascido recebendo o título de bacharel em direito. E pior: o negócio era comentado ao vivo pelo marido/pai/chato, que, empolgado, falava coisas como: "ouve agora o gemido da mãe" (ele chamava a mulher de mãe - o que explica, aliás, porque os protagonistas do vídeo estão separados hoje). Ou "olha, agora ela vai pegar o lençol e amassar, olha como ela crispa a mão e faz ufff". Ou ainda "e esse suor na testa dela, que beleza, né? Ela suava muito". E aí, como tudo sempre pode piorar, marido/pai/chato ficava passando várias vezes os momentos mais empolgantes (na ótica dele), tipo o médico pegando o bisturi (com o que ele definia como sensacional zoom no bisturi).
Agora, tem outro vídeo que jamais esquecerei. São horas e horas e horas e horas de um passeio da minha filha com a avó e a acompanhante, pela Redenção (pra quem é de fora: é um parque grandão e bacana que tem aqui em Porto Alegre). Bom, como era da minha filha, obviamente não se enquadrava na categoria chato, muito menos chatésimo. Era lindo, fofo, meigo, digno de trocentos replays, e ai de quem se atraver a levantar pa fazer xixi no meio da exibição.
Esse vídeo ficará para sempre na minha memória, não pela chatice, portanto, mas pela semnoçãozice. Que, se eu tivesse visto na hora, me deixaria histérica, mas que, passado algum tempo, virou folclore.
Começa que que as cenas do passeio, a maioria filmadas pela acompanhante da avó, apresentavam uma série de momentos performático-aquáticos, da avó colocando a minha filha, então com 1 ano e 8 meses (UM aninho e oito minimesinhos), na mureta do laguinho. De pé. Sem segurar. E mandando ela dançar!
Mas tem mais de onde veio isso. Corta pro momento folclórico 2, a missão.
Na Redenção tem um buda, que fica ali, gordão, no alto dum pedestal. Não é que o vídeo mostra que a avó colocou minha filhinha (de um aninho e oito mesinhos) no alto do pedestal, tipo a 1,5m do chão, quase o dobro da altura da minha filha. Colocou a nenê ali, junto do buda. E o buda efetivamente funcionou, porque a pequena não caiu. Virei budista depois de ver o vídeo, aliás.
E o vídeo segue. Está lá minha filhota, perto do buda. E das velas acesas do buda. Aí as cenars mostram que avó saiu de perto, pra ter uma tomada da menina com o buda sem ninguém segurando. Aí minha filha pega uma vela acesa na mão (!). Entra em quadro a mão da minha sogra (ou do buda?) tirando a vela da mão da criança. E então vem a cena mais emocionante, o ápice da produção videográfica ancestral: minha filha pega outra vela acesa (!), e tenta comer (!!) a vela.
Suspense.
Graças a buda, tudo termina sem mortos nem feridos. Entra em cena a avó (agora não sá a mão, mas toda ela) e tira a vela da menina.
Agora entendi porque a avó e nunca tinha nos mostrado o vídeo. Entendi também que o tempo faz milagres. Porque seu tivesse vistoi tudo um tempinho depois da filmagem, ficaria ensandecida. Alguns anos depois, tendo lidado mais com uma criança e sabendo que todo mundo que convive com criança pequena tem seus surtos de semnoçãozice, dou risada. Conclusão: a mais sem noção de todos os envolvidos no evento sou eu. E dá licença, que vou acender uma velinha pro buda.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
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6 comentários:
Vários comentários:
1) esses dias escapei de assistir a um vídeo de festa deaniversário de 5 anos na casa do aniversariante. Disse que já tinha assistido. O que foi uma grande e deslavada mentira, visto que a fita estava desaparecida há mais tempo do que eu conheço a pessoa. Mas a pessoas preferiu acreditar em mim. Ainda bem.
2) Sempre digo que esses vídeos só são legai spra quem aparece neles.
3) Já vi pai chato, mas esse aí do vídeo com vários replays da mãezinha ganhou o prêmio.
4) O anjinho a tua filha era coadjuvante no vídeo familiar.
bj!
Meninas, tem meme pra vocês lá no DPD. Passem lá! Bj
1) sério, que te obriga a assistir vídeo de parto é sem noção. já passei por isso e fiquei muito constrangida de dizer: olha, parto é lindo, mas é lindo pra quem vive, não pra nós. parto é um momento tão íntimo que eu acho que, fora de contexto, nem o pai da cria gosta de assistir muito, não.
2) chamar a mulher de mãe (e o marido de pai) é o fim da várzea. tenho ímpetos de gritar e dizer "ai, calaboca! vocês não enxergam que isso é ridículo?!".
3) é, era sogra mesmo.
4) tu não passou a ter um medo tremendo de deixar a Mariana com a sogra desde que assistiu ao vídeo?
5) ela não ter mostrado o vídeo antes não significa que ela sabia que tinha feito merda?
Oi Eva, sou fã de ti e da Venuss, sempre leio. Adoro!...morri de rir com este seu post. Vídeo-chato é cruel demais. Tive que assistir um de duas horas e meia de um aniversário de 15 anos (junto de dois pais empolgadíssimos pela deusa-modelo-filha)!!!Só os apertos de mão e abraços na entrada do clube foi de quase 50 minutos(ou mais, não tenho certeza, já estava febril nesta hora!!!)agora, o vídeo da tua filha deve ser hilário principalmente assistindo junto contigo, só para ver as tuas reações...Um beijo e um abraço para voces. Malú
E você, quando ficar vovó, vai fazer a mesma coisa. Mas cuidado: sua filha estará assistindo on-line!
tag: futurista
Calçolas,
Passem lá no Blog que hoje é dia de festa!
Beijocas
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