quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sem noção sem fim

Venuss e eu estamos numa cruzada contra a falta de noção. Mas é tanta que às vezes dá a sensação de que não tem chance da gente ganhar a guerra. São as pessoas que transformam os guarda-chuvas e sombrinhas em armas letais nos aguados dias do inverno porto-alegrense. São os guardas de rua que transformam os apitos em instrumentos de tortura para os pacatos habitantes das zonas residenciais. São tantas coisinhas miúdas (e nem tão miúdas assim), roendo, comendo, arrasando aos poucos com o nosso (o meu e o da Maria Bethania) ideal...
Pessoas que estacionam onde não devem, por exemplo. Estou cansada de ver por aí esse tipo de gente mal-educada que quase me faz perder a fé na noção de que o homo é sapiens mesmo.
Pense no caso do supermercado ou do shopping. Quantos carros estacionados nas vagas de deficiente são realmente carros que têm o direito de usar aquele espaço?
Aquelas vagas são pra deficientes FÍSICOS, gente!
E tá assim de motorista fingindo que não viu, ou com preguiça da caminhar 10 metros a mais, ou se achando o rei da cocada preta (com isso acabei de denunciar a minha idade, né?), ou achando que "vou ali rapidinho e já tiro o carro" é desculpa aceitável, ou sei lá o quê, usando as vagas na maior cara de pau.
Estacionar em vaga de deficiente ou gestante sem ter direito é tão feio quanto a vigilância e a gerência do estabelecimento se omitirem em relação ao fato. E os guardas dos estacionamentos vivem fazendo isso, eles se omitem. E quem instrui e supervisiona os vigias faz igual. Quer dizer, é uma corrente de sem-noçãozice que se estabelece.
As proximidades de escolas são outro lugar em que o fenômeno do estacionar onde não deve se manifesta o tempo todo. O território próximo de instituições de ensino privadas virou terra de ninguém, gente. Os motoristas estacionam nas entradas de garagem e não querem nem saber. Falo estacionar, não parar, ou seja, deixar o carro ali e sair dele. Pra longe. Por um tempão. Eles abandonam os carros e azar dos outros, principalmente de quem mora na casa ou prédio que teve a entrada obstruída. O fenômeno é especialmente freqüente perto de escolas privadas de ensino fundamental. Porque aí os pais (e principalmente as mães - concluí isso depois de meses e meses de observação do fenômeno) precisam sair do carro pra levar o pimpolho até a porta. E aí eu pergunto: de que adianta colocar a cria num bom colégio, gastar dinheiro em educação, se é pra dar um exemplo desses na família?
Tô propondo, portanto, uma cruzada contra essa gente que não sabe estacionar. Tem várias coisas que dá pra fazer, e aqui vão algumas idéias.

Dá pra olhar longa e ostensivamente e muito, muito feio quando a gente vê alguém fazendo isso.

Dá pra interpelar o sujeito - correndo o risco, claro, de ouvir barbaridades em resposta, até porque quem não sabe estacionar em geral não tem noção de civilidade, mas a razão e a lei estão do nosso lado. Nessa categoria de ação, eu distingo 3 modalidades: a) abordagem contida-séria-racional (tipo: por favor, não estacione aqui, blablabla, porque isso isso e aquilo); b) abordagem simpatiquinha-espirituosa-amiga (tipo: oi, não me leva a mal mas eu vou sair daqui a pouco então por ravor não estacione aqui porque não consigo tirar o carro e tudo mais. Minha experiência mostra que só funciona bem se o energúmeno estaciona na sua entrada de garagem. Se for num shopping opu super ou loja, não dá resultado, ao menos comigo nunca deu); e c) abordagem histérica-ensandecida-tazo (em voz bem alta, de preferência estridente, você já sai xingando e dizendo barbaridades. Não é nem um pouco bonito, e tenho a maior vergonha das vezes em que fiz isso, mas que funcionou, funcionou. Só preste muita atenção antes de implementar a tática, porque se você sair rodando a baiana e não tiver razão, pega muito, muito mal. De repente, por exemplo, a pessoa que colocou o carro na vaga tem dificuldade de caminhar e você não percebeu, sei lá).

Também dá pra grudar cartazetes feitos em casa nos carros mal-estacionados, com frases chamando atenção, em letra bem grande (recomendo a arial black corpo 45). Nesse caso, você pode fazer frases de vários tipos: a) fazendo o motorista pagar mico, com dizeres tipo "O motorista deste carro não sabe estacionar", ou "o motorista deste carro estaciona onde não deve - que feio!"; b) dando uma de criativo, com frases como "De mau-exemplo este país já está cheio. Não estacione onde não deve." ou, na entrada duma escola: "Nossas crianças não merecem mais um mau exemplo. Nâo estacione mais onde não deve." c) apelando, com dizeres tipo "Você estacionou onde não devia. Na próxima, vai ter coisa bem pior que um cartazinho grudado no seu carro."

Também dá pra chamar o guardinha e pedir que ele faça alguma coisa (em geral eles não fazem, mas vai que funcione, e pelo menos você não fica com a sensação de omissão).

Dá pra conversar com a gerência ou direção e pedir que cuidem melhor do estacionamento (no caso do Zaffari da Otto não funcionou, mas se muita gente for lá encher o saco, quem sabe os caras fazem o que devem fazer).

Aceito outras idéias. A única coisa que não vale é dizer pra deixar assim porque as coisas não vão mudar mesmo e biriri, bororó. As coisas podem mudar, sim, e isso começa com as pequenas coisas. Mesmo tendo momentos de profunda dúvida, eu no fundo acredito na evolução da espécie humana. Tô sendo Poliana demais, será?

Um comentário:

venuss disse...

e a cruzada continua. Haja chuva, guarda-chuva, guarda apitador ou fdp estacionando em lugar proibido, a gente vai estar lá, clamando por uma vida com mais noção.