Ontem eu fui pro centro. Tinha médico. Acho que eu não preciso explicar pra ninguém o que é o centro. Feche os olhos e imagine uma incrível concentração de estabelecimentos comerciais de uma grande cidade. Pessoas, muitas pessoas circulando. Carros, ônibus, ambulantes, panfleteiros e pedintes. Pronto, isto é o centro. Agora acrescente chuva. Muita chuva. Não garoa. Água caindo de balde. Este é o centro de Porto Alegre com chuva. Um cenário assustador habitado por personagens armados de guarda-chuvas e sombrinhas. Perigosíssimo ir ao centro nestes dias. As tias com suas trinta sacolas vêm de todos os lados. Na contramão e com o guarda-chuva baixo mirando bem o teu nariz. Desculpas é artigo em extinção. Também tem as vozinhas lentas e baixinhas que, invariavelmente, encostam a sombrinha no teu casaco que já tá molhado porque a chuva é tão indisciplinada quanto os caminhantes: provém de todos os cantos. As duplas de mães e filhos se vêem donas da calçada, tipo assim: não tá vendo que eu tenho uma criança aqui? Sim, eu vejo uma criança. Também vejo o guarda-chuva do Batman com suas asas que só servem pra abanar ainda mais a chuva nas tuas calças. Ontem vi uma mãe segurando uma sombrinha da Hello Kitty. Na cabeça dela, não da filha. A guriazinha tava mais preocupada em sapatear nas poças com suas botas da Barbie. (Eu tinha uma bota vermelha da Turma da Mônica. Era linda ela. Lembro que não quis tirá-la do pé no dia em que ganhei. Minha mãe não me deixou dormir calçando a tal bota da Turma da Mônica. Mas nunca se opôs a que eu imitasse as Paquitas com elas). No cenário “Chuva no centro” também habitam adolescentes. Sem guarda-chuva, óbvio, porque proteção é coisa de gente velha. Meninas com suas barrigas de fora no frio ficam te olhando com cara de pena porque tu dependes de um guarda-chuva, elas não. Com exceção das praticantes da chapinha, essas precisam proteger o cabelo do frizz. Tem também os guris, que ainda conseguem ser mais mal educados num dia chuvoso. E isso sem porte de guarda-chuva. Boné ou capuz são suas únicas armas. Acompanhados da falta de respeito, porque se julgam no supremo direito de andar sozinhos por debaixo das marquises. Esteja quem estiver em seu caminho. Tem também o cara que corre no meio de todo mundo, querendo chegar no banco antes das quatro. O camelô que fica levantando o plástico molhado que cobre a banca pro cliente visualizar a mercadoria. E o vendedor de guarda-chuva? Ocupa bastante espaço na calçada pra vender melhor o produto. Boa tática essa: te empurro pra chuva e tu te aproxima com 5 pilas na mão (acho que é isso que eles gritam: óólha a sombrinhaaa, sóóó 5 pilasss). E sem contar o espetáculo que é o malabarismo dos guarda-chuvas. Levanta, afasta, deixa de um lado, inclina pro outro. Ui, engatou. Pára e desengata logo, se não alguém sai arrastando o teu. Queria estar no alto de um prédio e ver a dança das sombrinhas coloridas. Deve ser divertido. Festival de frevo em pleno Rio Grande do Sul. No inverno.
Eu odeio chuva. E falta de educação, nem se fala.
Cinco perguntas acionadas pela chuva:
1) O que fazem da vida os vendedores de sombrinha quando o sol está no céu?
2) Por que todo motorista facão (lembram dessa expressão?) resolve sair de casa justamente em dia de chuva?
3) Por que tem tanto médico trabalhando no centro?
4) Por que achar vaga pra estacionar no centro parece penitência e pagar pra deixar o carro mais parece castigo?
5) Quando é que essa chuva vai parar, hein?
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Um comentário:
Venuss querida,
Tens toda razão: guarda-chuvas são um perigo na mão de gente sem noção. Na verdade, deveria haver uma carteira de habilitação pra permitir o porte dessas verdadeiras armas.
Beijos, beijos
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