Uma amiga passou na minha casa de manhã, e anunciou, com voz trágica , a morte da Gabriela. Gabriela? Gabriela??? Escaneio a mente pra ver quem seria a Gabriela que eu obviamente devia conhecer. Não encontrei nada na memória, e minha amiga esclareceu, com os olhos mareados: é o passarinho que pertence - ou melhor, pertencia - às suas filhas.
Minha amiga não sabia ainda como narrar o fato pras meninas, de seis e três anos e meio. Estava preocupada, claro.
Fiquei tentando ajudar de algum jeito, e tratei de lembrar como era essa coisa de morrer um bichinho quando eu era criança.
Volta e meia morria algum bicho lá em casa. Rato branco, hamster, tartaruga, peixe, porquinho da índia, cachorro, gato - tinha tudo isso (coitada da minha mãe!) e eventos fúnebres não eram excepcionais, ainda mais considerando que ter só um rato branco, ou um hamsterzinho, ou um porquinho da índia, ou um peixinhozinho era algo impensável. Tadinhos, precisavam de companhia. E obviamente se reproduziam. Assim também se multiplicavam os óbitos.
Eu sempre ficava triste, claro. Mas como não tinha alternativa mesmo, fazia um enterro bem bonito cada vez que um deles partia.
Lembro bem dos funerais solenes - eram sempre mais ou menos no mesmo padrão. O corpo era colocado em uma caixa, forrada com algum papel ou pano vistoso e colorido. Depois eu escolhia um local bonito para o enterro. A gente (sempre havia alguém além de mim envolvido - minha irmã, minha mãe, crianças da vizinhança) providenciava flores, e fazia um cortejo fúnebre até o local. A caixa era enterrada, havia uma pausa para reflexão, colocávamos as flores na sepultura. Nos dias seguintes, eu visitava o túmulo e colocava novas flores e citava muito o ser finado nas conversas.
E assim eu ia me despedindo dos bichinhos. E pensando se o esqueletinho descarnado talvez poderia ser exumado para estudo científicos.
Não era muito trágico, ou era menos trágico do que a morte me parece hoje, embora volta e meia batesse a saudade. Providenciar o enterro já era um jeito de ficar ocupada, e manter-se ocupada é uma ótima forma de lidar com perdas, inclusive pra crianças. Outra coisa que era legal era poder se despedir. O ritual, as flores, tudo era um jeito de marcar o momento e o afeto por aquele que se foi. Era tanqüilizador, num certo sentido, acho.
E agora eu fico pensando como as meninas vão ficar sem a Gabriela.
Outra Gabriela não vai ter, como eu não tive outra Cleópatra, outro Mungo, outra Semíramis, outro Esquálidus, outra Madalena, outro Otávio, outro Mausi, outro Schmausi, outro Charlie, ourta Kelly, outro Totty e outros tantos.
Mas lá pelas tantas a gente fica bem.
Depois do luto, elas vão ter espaço para uma Renata, ou uma Bianca, ou uma Natália.
Essa é a vida.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
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3 comentários:
O peixe beta (por total falta de criatividade e/ou preguiça, o nome dele era Beta mesmo) da Marina tá enterrado no jardim do meu prédio. Por um bom tempo ela abanava pra ele cada vez que saíamos de casa. ale
os meus bichinhos, qdo morriam, minha mãe ou meu pai davam fim ao corpo de uma forma instantânea e meio inexplicável. Plim, sumiam. Mas pra mim era melhor assim, pq eu era daquelas que via um passarinho morto na rua e passava o dia chorando por causa disso. A minha sorte é que meus bichinhos sempre duraram muito, o gato que eu ganhei aos 12 ainda vive na casa da minha mãe. Vai completar 16 anos o Bichinho, um pouco antes do meu níver.
Que fofo, a filhota da Ale tem um canteiro de Beta. E viva a gata longeva da venuss.
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