segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Eu vou pro céu?

Minha filhinha estava tendo as primeiras aulas de esqui. A coisa mais fofa, ela, com menos de quatro aninhos, usando aquelas botas, um colete com uma alça grande atrás (que serve tanto pra ela levar o esqui quanto pro professor levantar ou segurar os pitocos sempre que necessário), um capacetão enorme, goggles (aqueles óculos de esqui).
A coisa mais linda do mundo.
No fim do segundo dia de aula, o professor anuncia que no dia seguinte ele levaria as suas duas mini-alunas (ambas com 3 aninhos) para a altitude de 1.600 metros, naquelas cadeirinhas-lift.
Tentei disfarçar a ansiedade, que na verdade era pânico total. São cadeirinhas abertas, e elas ficam penduradinhas, muito alto.
E se bater um vento?
E se minha filha se assustar?
E se ela resolve que tá com coceira no popô e resolve coçar e se revirar toda ali?
E se minha filha cai????
Eu não tenho coragem de levar a pequena na roda-gigante, e aí me vem um professor de esqui argentino, um guri, e quer colocar minha filhotinha naquele troço?
Aiaiaiai!
Mas como acho superlegal desenvolver o espírito de aventura nos pequenos, e como meu marido também acha isso, tentei fazer de conta que era a coisa mais natural do mundo.
De noite conversamos com a pitoca sobre a subida. Explicamos que ela iria subir a montanha nas cadeirinhas, repassamos regras básicas de segurança, enfim, fizemos o que estava ao alcance das nossas nesse caso tão curtas mãos.
Ela ficou superinteressada, principalmente na questão da altitude. Perguntou se as cadeirinhas ficavam penduradas bem alto, se ela iria subir bem alto na montanha, se ficaria nas nuvens.
Respondemos, meu marido e eu, que sim, que ela iria lá para cima, bem alto.
Ela perguntou: então eu vou pro céu, ficar com o vovô e tia Flora?
Meus olhos ficaram rasos de lágrimas.
Tentando não ver na pegunta algum presságio de desgraça, e pensando que os instrutores de esqui afinal de conta são instrutores de esqui e portanto sabem o que fazem em matéria de esqui, reuni as últimas energia e sorri.
Expliquei que não, que pro céu, céu ela não iria. Mas que ela iria estar perto do céu, sim.
E ela anunciou que iria abanar e dar oi para os parentes queridos e falecidos quando estivesse láááá no alto. Coisa que efetivamente ela confirmou depois que fez.
O vovô e a tia Flora devem ter adorado.

4 comentários:

venuss disse...

ai que coisa mais AMADA! vontade de apertar tua pequena...

Anônimo disse...

Já que eu sou o marido (pelo menos sou o que viajou pra Argentina) só vou fazer uma correçãozinha. Ela não disse que ia pro céu, mas que, por estar mais próxima do céu, aproveitaria pra mandaria um beijo pro Vovô Eloy e pra Titia Flora. Muito legal e sensivel, mas também, com um DNA daqueles, vai querer o quê?

Anônimo disse...

Isso me faz lembrar a coleguinha da Marina neste sábado, pouco antes de iniciar a peça no teatro em que estávamos. Ela me explicava que o pai dela estava no céu e que ela nunca o tinha visto, mas não fazia mal, já que ele se comunicava com ela quando ela estava na barriga e que ele está sempre ao lado dela. Guria, eu queria gritar de tanta emoção e vontade de chorar. Já chorei três vezes cada vez que lembro da cena. São umas amadas né? ale

Enio Luiz Vedovello disse...

A gente sempre fica bobo com o que os filhos fazem, não importa a idade (nossa ou deles).
Um beijo na pequerrucha...