quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Vovó e o vídeo

Nada mais chato que assistir intermináveis vídeos domésticos mostrando em tempo real alguma coisa muito sem graça acontecendo. Exemplos: a mulher cozinhando sopa; o filho tentando jogar basquete; o pai pintando a veneziana; o cachorro dormindo na frente da lareira. (tá bom, o Andy Warhol filmou um cara dormindo e depois obrigou os amigos a assistir aquelas 8h de roncos, viradas esporádicas e r.e.m., mas era o Andy Warhol, pô!).

O mundo está cheio de vídeos chatos. Nunca jamais esquecerei do dia em que fui obrigada a assistir o de um parto (!) que não tinha sido editado (!!). Obs.:a edição reduz o índice de chatice, mas nem sempre elimina. O tal vídeo era longo, muito, mas muito longo. Um parto. Começava praticamente com o pré-feto quando este tinha no máximo 64 células, e terminava quase com o nem mais tão recém nascido recebendo o título de bacharel em direito. E pior: o negócio era comentado ao vivo pelo marido/pai/chato, que, empolgado, falava coisas como: "ouve agora o gemido da mãe" (ele chamava a mulher de mãe - o que explica, aliás, porque os protagonistas do vídeo estão separados hoje). Ou "olha, agora ela vai pegar o lençol e amassar, olha como ela crispa a mão e faz ufff". Ou ainda "e esse suor na testa dela, que beleza, né? Ela suava muito". E aí, como tudo sempre pode piorar, marido/pai/chato ficava passando várias vezes os momentos mais empolgantes (na ótica dele), tipo o médico pegando o bisturi (com o que ele definia como sensacional zoom no bisturi).

Agora, tem outro vídeo que jamais esquecerei. São horas e horas e horas e horas de um passeio da minha filha com a avó e a acompanhante, pela Redenção (pra quem é de fora: é um parque grandão e bacana que tem aqui em Porto Alegre). Bom, como era da minha filha, obviamente não se enquadrava na categoria chato, muito menos chatésimo. Era lindo, fofo, meigo, digno de trocentos replays, e ai de quem se atraver a levantar pa fazer xixi no meio da exibição.

Esse vídeo ficará para sempre na minha memória, não pela chatice, portanto, mas pela semnoçãozice. Que, se eu tivesse visto na hora, me deixaria histérica, mas que, passado algum tempo, virou folclore.

Começa que que as cenas do passeio, a maioria filmadas pela acompanhante da avó, apresentavam uma série de momentos performático-aquáticos, da avó colocando a minha filha, então com 1 ano e 8 meses (UM aninho e oito minimesinhos), na mureta do laguinho. De pé. Sem segurar. E mandando ela dançar!

Mas tem mais de onde veio isso. Corta pro momento folclórico 2, a missão.

Na Redenção tem um buda, que fica ali, gordão, no alto dum pedestal. Não é que o vídeo mostra que a avó colocou minha filhinha (de um aninho e oito mesinhos) no alto do pedestal, tipo a 1,5m do chão, quase o dobro da altura da minha filha. Colocou a nenê ali, junto do buda. E o buda efetivamente funcionou, porque a pequena não caiu. Virei budista depois de ver o vídeo, aliás.

E o vídeo segue. Está lá minha filhota, perto do buda. E das velas acesas do buda. Aí as cenars mostram que avó saiu de perto, pra ter uma tomada da menina com o buda sem ninguém segurando. Aí minha filha pega uma vela acesa na mão (!). Entra em quadro a mão da minha sogra (ou do buda?) tirando a vela da mão da criança. E então vem a cena mais emocionante, o ápice da produção videográfica ancestral: minha filha pega outra vela acesa (!), e tenta comer (!!) a vela.

Suspense.

Graças a buda, tudo termina sem mortos nem feridos. Entra em cena a avó (agora não sá a mão, mas toda ela) e tira a vela da menina.

Agora entendi porque a avó e nunca tinha nos mostrado o vídeo. Entendi também que o tempo faz milagres. Porque seu tivesse vistoi tudo um tempinho depois da filmagem, ficaria ensandecida. Alguns anos depois, tendo lidado mais com uma criança e sabendo que todo mundo que convive com criança pequena tem seus surtos de semnoçãozice, dou risada. Conclusão: a mais sem noção de todos os envolvidos no evento sou eu. E dá licença, que vou acender uma velinha pro buda.

No super II

Eu, no caixa, concentrada pra digitar a senha do cartão (a quantidade de senhas que a gente é obrigada a decorar é algo) . A moça fala alguma coisa e aquele blá, blá, blá baixinho pareceu diferente do usual "encontrou tudo o que procurava?" Olhei pra ela com cara de hã?! e ela repetiu: é confortável esse O.B.?
Voltei do transe-lembra-senha tentando entender a pergunta. Aí ela aponta pro rancho de O.B que eu tinha acabado de fazer (no Zaffari tá em promoção). Disse que sim, era confortável. Tu nunca usou? O guri que empacotava as mercadorias de orelha em pé interessado no papo de menina. Ela me diz que comprou ontem e que nunca tinha usado. Sugeri que provasse logo, que ia gostar. Mas não incomoda? Se botar direito não.
Quando me dei conta do tipo de papo que eu estava levando no caixa do supermercado com uma menina que tinha cara de quem menstruou a primeira vez ainda este ano e que três meninos empacotadores estavam super atentos a nossa conversa, eu me senti a legítima tia que ensina as verdades da vida em meio a risinhos adolescentes.

No super I

Por que tenho que fazer força pra encontrar o bom e velho xampu pra cabelo normal, seco e oleoso?
Na prateleira do super, pilhas de opções especiais e específicas pra todos os pentelhos do corpo é o que me oferecem. Eu não quero xampu pra alisar o cacho debaixo da orelha esquerda dos cabelos médios nem muito menos o produto pra domar cabelos novos que nasceram na lua cheia de maio com pontas elétricas. Não quero nada que deixe o meu cabelo empapado, só quero o bom e velho xampu pra cabelos normais. E deu.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ema, ema, cada um com seus pobrema

Ontem, um dos palestrantes de um evento lembrou daquele lance sobre o ideograma chinês da crise (aquela história de que o ideograma que quer dizer crise é formado da combinação de dois elementos, que são algo como problemão e oportunidade).
Fiquei pensando que, dependendo do tamanho do problemão, a criatura pode estar mesmo é só esperando uma oportunidade pra cortar os pulsos.

Obrigatoriedades e limitações

Depois que tive filha, acho que devia haver uma lei obrigando todo mundo - até os monges tibetanos do alto do himalaia - a achar muito, mas muito fofo o que as crianças fazem. Especialmente minha filha, claro.

Todos deveriam ser obrigados a sorrir docemente ao ver a minha criaturinha.

Todos deveriam tecer comentários elogiosos sobre a inteligência dela, até mesmo quando ela começasse a cantar uma daquelas longas e chatésimas músicas intermináveis e sem noção, com a letra inventada, às quais ela nos submete quase todos os dias nos últimos meses.

Todos deveriam dizer a ela que ficou sensacional aquela maçaroca de gel, tic-tacs, mini-piranhinhas, borrachinhas cor-de-rosa e mais gel, por favor, mamãe, porque a franja não ficou pra trás.

Com defensora da lei que institui a obrigatoriedade de se achar a Mariana incrivelmentemegablastersensacional, não entendi por que mulher de uns 40 anos fez cara feia e grunhiu pra minha pequena hoje, quando esta, no vestiário da natação muito cheio, perguntou bem, bem, bem alto: "desde quando tu tinge o cabelôôôô???" e toda mulherada ficou rindo.

Beijo gostoso

Minha filhinha levanta da mesa do café da manhã, Chega perto de mim, segura meu rosto e esfrega a carinha na minha bochecha. Comovida com aquele carinho tão fofo e meigo, comento: "Mas que beijo mais gostoso esse que tu me deu, filhota." E ela esclarece: "Não é beijo, mamãe, é que tu não me deu guardanapo. Agora tu é meu guardanapo." Ainda bem que iogurte, mamão e requeijão fazem bem pra pele.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Rapidinhas

Semana passada. Cama. Antes de dormir. Marido diz: quem diria que um dia eu iria dormir com bicho na cama.

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Ontem. Pia do banheiro. Antes de dormir. Eu: ai, tô ficando enrugada. Silêncio. Meu amor, fala alguma coisa, quem cala consente. Mais silêncio.
Fala alguma coisa pra me salvar dos meus pensamentos!

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Hoje. Em frente ao computador. Pensamento pré-almoço: inferno astral e dieta não deveriam dividir o mesmo prato.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Ado no apê e o chiclé

Por que será que músicas sensacionais e inteligentes não são chiclé de ouvido e não ficam sendo cantadas pela minha pessoa sem parar? Por que será que eu vivo cantarolando coisas como "ado, ado, cada um no seu quadrado", ou "hoje é festa lá no meu apê"?

Papéu ingênuo

Sabe aqueles megarrolos de papel higiênico - aqueles com metros suficientes pra dar quatro voltas na terra, ir daqui até a lua e ainda empacotar o Pão de Açúcar? Pois devia haver uma espessura mínima pro papel ofertado nessas bobinas.

Vai dizer que você não odeia com todas as suas forças quando o papel é ultrafino (leia-se ultrabarato) e tudo que você consegue arrancar do rolo são pedacinhos tão pequenos que não limpariam nem o cu de uma joaninha? Vai dizer que você não espuma de ódio de ter que enfiar o braço dentro do container de aço que protege o rolão, pra tentar fazer com que ele gire um pouco e libere ao menos alguns centímetros de papel, e aí você além de deslocar o ombro ainda arranha o braço naqueles dentes serrilhados que hipoteticamente deveriam ajudar a cortar o papel?

Se depender de mim, os caras que cometem esse produto estão amaldiçoados até a décima-quinta geração. E os donos de estabelecimentos de qualquer natureza que compram dos fabricantes picaretas aquela coisa também. E todos juntos irão pro inferno, onde ficarão por toda a eternidade sofrendo de terríveis dores de barriga e diarréia, tendo que tentar se limpar com aquela coisa muquirana que eles tentam fazer a gente acreditar que é papel, e ainda por cima higiênico.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pen-samento

Parece óbvio, mas mesmo a mais ululante obviedade às vezes merece menção - principalmente quando se está meio sem assunto. Depois dos lencinhos umedecidos, do palm top e do giz de cera acompanhado do caderno de capa dura (nesse caso só para mães), quero referir mais um item de sobrevivência básico da espécie humana. Qual seja, a caneta. Caneta é luz, caneta é vida, caneta é tudo na existência de uma pessoa. Caneta dá pra usar pra sublinhar, pra apontar, pra fazer buraquinho no papel, pra limpar a orelha (mas isso eu só sei por relatos), pra jogar em alguém, pra deixar cair num momento estratégico, pra substituir o giz de cera que toda mãe de vez em quando esquece. E dá até pra você escrever e anotar. Sabe reatuarante com garçom que faz tudo em slow? Você esperou horas pela Coca-Cola, um dia pelos guardanapos, semanas por um cardápio, décadas pelo copo com gelo (que era pro cara ter trazido junto com o refri - lentidão e amnésia costumam andar juntas), centenas de anos pela comida, uma eternidade pela conta (a sobremesa você pulou por conta da ineficiência do serviço). Vai dizer que, só de pensar em passar o cartão de crédito, já não te dá urticária nervosa? Pois é, aí você, pessoa prevenida, evoluída, bacana, saca o quê? O bom e velho talão de cheque, a pré-cambriana caneta esferográfica e pronto: está resolvido. Sem ter que ficar mais sei lá quanto tempo na mesa, sem assunto, só reclamando do quanto o serviço anda (?) devagar e fazendo sua companhia de almoço perceber o quanto você é chata. Você não é pessoa de ficar esperando caneta, é? Claro que não: quem sabe tem a caneta, não espera acontecer. Você faz o cheque, larga ali mesmo (mas embolsa a caneta, que é sua e vai sermuito necessária porque os garçons lentos são maioria) e pronto, vem, vamos embora. É por essas e outras que acho que todos nós deveríamos seguir o modelo de comportamento do quitandeiro bigodudo português Joquim Manuel, e andar com uma bela duma caneta atrás (ou dentro - mas isso eu só menciono no nível da teoria) da orelha.

Pensando raso

Ontem, atravessando o mar de barraquinhas que obstrui as vias que antigamente eram públicas, me senti enturmadíssima, de tanta amiga pra cá, amiga pra lá, aqui amiga, oi amiga e por aí vai. Por que será que todos os camelôs do mundo acham que sou amiga deles?

Very God

Acabo de descobrir que 14 de Junho é o Dia Universal de Deus. Considerando que Ele é O cara, que Ele é onipotente, onisciente e sobretudo onipresente, o dia Dele não poderia mesmo ser municipal, regional ou nacional, poderia?

Nãossei

A gatinha viralata que minha filha batizou de Nãossei fica com o queixinho tremendo quando vê os pardais lá de casa saltitando pelo pátio. Ela parece aqueles bichinhos falantes de Babe, o Porquinho Atrapalhado. Será normal isso? venuss, com grande conhecedora de hábitos felinos, me responde, pliiiiiiz.

De parar o trânsito

Mas o que foi o trânsito portoalegrense ontem, me digam?
Depois das dezenas de quilômetros de engarrafamento, eu pergunto: pra que ir até São Paulo, se agora também aqui a gente pode ficar horas e horas e horas preso no carro?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Nababesco

Uma vez a cada dois anos, depois de ter esquecido a última vez em que cometi esse ato, subo a serra gaúcha prum típico final de semana overmegablasterturistão.

Este ano, como sempre, o cafezão colonial fez parte do roteiro. Aquele ambiente cheio de paulistas e nordestinos entusiasmados, aquela mesa de 15 metros de comida e mais uma mistura bizarra de comidas no meu estômago me levou a questionamentos absolutamente dispensáveis, mas que eu vou postar assim mesmo.

Para onde vão, pensei eu, entre um apfelstrudel e um pão de aipim com nata e mel, os pepinos, azeitonas, cenouras, couves-flor e - claro - cebolinhas e rabanetes em conserva, depois de serem reciclados trocentas vezes (ninguém come aquelas coisas) e adquirirem uma aprência que impossibilita que vão novamente á mesa?
Quem come morcilha branca e por que ela segue sendo servida no café colonial?
O que dizem realmente os garçons quando colocam as coisas na mesa e vão resmungando, querendo que a gente acredite que eles estão dizendo o nome de cada uma daquelas coisas?
Por que as pessoas acham tão lindo se fotografar diante daquela quantidaede grotesca de comida?
O que os donos dos cafés coloniais fazem quan os botões de roupa que estouram de tanto as pessoas se entupirem de comida?
E por que fico falando coisas ranzinzas, quando a-do-ro um cafezão colonial e nunca recuso um convite pra ir???

Traseira

O trânsito, além de permitir a manifestação da verdadeira natureza humana, inspira reflexões tão imbecis quanto aqueles motoristas que aceleram assim que percebem que podem ser ultrapassados, só pra não perder uma corrida que ninguém sabia que estava acontecendo.

Andava eu calmamente atrás de um ônibus, quando vi o busback ou coisa que o valha (aquelas propagandas no vidro traseiro do ônibus. Não sei o nome, mas com certeza é em inglês, porque o publicitês tupiniquim não sobrevive sem inglês, e deve ser algo na linha busback, já que tem bustop, frontlight, floordoor e seiláeuoquemais).O tal busback anunciava cremação a partir de 35 real por mês (não é erro de digitação, eu quis mesmo escrever 35 real).

Fiquei então pensando como seriam as outras modelidades de cremação,considerando que o velório acontece à parte, e que caixão também é cobrado à parte (sei, porque já participei de todo esse cerimonial fúnebre, estive num há pouco, de corpo presente - mas a morta no caso não era eu).

Seguindo a lógica de que toda a outra parte dos ritos fúnebres são cobrados à parte porque associados a outro momento das despedidas derradeiras, quais seriam as variações entre os diversos planos de cremação?

Talvez, com R$ 35 por mês, se tenha direito a foguinho de carvão meia-boca e acendimento com fósforo normal. Daí, por apenas mais alguns reais por mês, você já muda de classe sócio-crematorial, e ganha um fogo mais intenso, com mais carvão, acendimento com palitão de fósforo bacana, daqueles de acender lareira.

Subindo mais um pouco a escada que, apesar de ter a ver com passagem desta pra melhor e tal, não é a do céu, mas sim das diferenças de preço e classe, chegamos no patamar do fogo com lenha e acendimento com isqueiro bic.

Mais uns reais, e o fogo inclui nó de pinho e isqueiro na cor preferida do finado.

Depois, foguinho com lenha ecologicamente certificada (no alto da pirâmide social fica bem mais fácil pensar em ecologia, Kyoto, mico leão e madeira certificada) e acendimento com Zippo.

Pensando em tudo isso, chego a minha derradeira reflexão: não sei se tem vida depois da morte, mas capitalismo com certeza tem.

sábado, 13 de setembro de 2008

Dica de cinema

Mais uma dica de cinema: fuja de casais de velhinhos. Nunca sente ao lado de um casal de velhinhos. Se eles resolverem conversar durante o filme, invariavelmente um deles será meio surdo e até pra pedir pra ficarem quietos você vai ter que gritar.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Meta

Os manuéis de auto ajuda, os livrecos de fórumlas de sucesso, as salas de terapia, todos reverberam os mesmos conselhos: o importante é manter o foco, o fundamental é ter metas, é preciso ter ideais, acredita e conquistarás, quem com ferro fere com ferro será ferido, viúva nova é que nem lenha verde - chora mas pega fogo, e outras verdades universais.Pois eus que finalmente consegui ter, eu também, a minha personal meta Tabajara. meu lema do ano, minha frase de ordem, meu guia, meu ideal, meu bem, meu zen e nada mal famigerado foco.And the goal is..........(tchan, tchan tchan tchannnn)Sobreviver até dezembro.

É isso aí. Tudo que eu quero neste momento é que o ano passe, que eu tenha entregue os presentes de Natal, as notas dos alunos, o planejamentos de comunicação pra 2009 todos, um curriculo lattes mais ou menos atualizado, uma casa mais ou menos (mais pra menos que pra mais) funcionando (ainda que o pátio pareça algo entre o que imagino ser uma cruza de Bósnia, Iraque e Afeganistão), e que eu ainda esteja viva, mesmo que com a pele estragadinha de tanto acordar cedo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Diário da di-êta

Pissoua humana vê que já perdeu os critérios quando vai ver se a gata tá dormindo antes de abrir o potinho de iogurte light de 44 calorias pra não ter que dividir com a bichana.

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Pissoua humana vê que a gata sente cheiros mesmo dormindo e fica feliz em dividir o iogurte: pela cara de satisfação e felicidade da bichana e porque ingeriu 22 calorias a menos no dia.

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Pissoua humana fica feliz quando veste aquela calça que começou a sobrar. Pissoua humana fica triste quando olha pro prato e vê que a comida continua a faltar.

domingo, 7 de setembro de 2008

Nada, ainda

Depois de 21horas ininterruptas de tentativas de compra de ingresso pro show da tia Madonna, venuss baixou a guarda e foi dormir sem ingressos. E gente, quando eu falo ininterruptas, é tipo só parar pra tomar um banho de 5 minutos. Eu já virei algumas noites trabalhando em agência de propaganda, mas nunca tinha ficado 20horas fazendo a mesma coisa, o tempo todo. Em agência tu ao menos pára pra comer a pizza (que às vezes é tu mesma que paga).
Hoje, domingo, sigo sem ingressos. Mas ainda sigo nas tentativas. O site de vendas saiu do ar faz dias e o telefone continua me respondendo: mensagem gratuita: este número não existe. Consegui que atendessem a ligação umas 6 vezes, sendo que o mínimo que fiquei na linha esperando que a musiquinha cedesse lugar à voz de um atendente foi de 40 minutos. E, tanam! a ligação cai sem dó nem piedade. Quase escuto os risinhos do outro lado da linha: "caiu de novo sua trouxa!". A conta telefônica desse jeito vai custar o 3º ingresso pro show. Se bem que eu ainda não consegui nem os dois primeiros...
E pra mostrar que a coisa não tem jeito mesmo, tô eu aqui correndo pra terminar este post que a meia noite abre a venda pros ingressos em Buenos Aires.
Só matando.
Mas eu não posso morrer sem ver a Madonna.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ô mulherzinha difícil

Lá pelos meus 12 anos eu disse que não morreria sem assistir a um show da Madonna. Foi lá pelas épocas em que a tia Madonna trouxe o The Girlie Show pro Brasil. A criança aqui já se achava grande coisa e queria, porque queria ir. E não foi.

Ontem, às 23h45, marido e eu sentamos no computador pra comprar os ingressos pra qualquer um dos shows em SP. Meu presente de aniversário.
Lá pelas 0h15 a coisa começou. Quer dizer, começou a empacar.
Marido aguentou até 2h30. E eu segui firme na insana tarefa de comprar os tais ingressos via internet na tickets for fun. Tickets for hell e tickets for fuck depois, eu ia fazendo planos a cada nova hora:
às 4h eu vou pra cama, com ingresso ou sem.
5h... hummm... fiquei até aqui, fico mais um pouco
6h.... agora libera a venda por telefone
6h25... jesus maria josé... tô virando noite por causa de uma mulher

Suja, faminta e sem forças, eu caí na cama. Marido retomou os trabalhos pouco antes das 8h. E eu reassumi o posto às 9h30.
Matei a aula que eu tinha de manhã. Matei a aula que eu tinha de tarde. Matei o banho até poucos minutos atrás pra não perder tempo no chuveiro. Matei a fome com belisquetes (tudo light, sem gosto, sem 'sustância' e sem vida - e a Eva sem um pingo de amor à venuss me vem descrever O Cachorro do Rosário em detalhes clínicos).

Tentei comprar os ingressos centenas de vezes via net e fone e nada. Os ingressos parecem cada vez mais distantes, enquanto o esgotamento tá estacionando aqui do ladinho da tela... Num guento mais. Mas a mula aqui não nasceu pra desistir e quando eu penso tudo que eu já fiz até aqui, sempre dá pra segurar por mais um horinha, duas, um turno, um dia... Até que alguém me prove que os ingressos esgotaram de vez.
Isso que eu nem vou gastar o resto das minhas forças reclamando da bosta de sistema de vendas de ingressos. Isso foi planejado com requintes de crueldade. Brasileiro tem que se fudê mesmo.

E antes que as minhas forças acabem por completo e o mau humor tome conta de vez, eu preciso perguntar uma coisa: quem foi que deixou uma criança de 12 anos jurar ou praguejar alguma coisa como essa? Eu devia ter apanhado de relho que aí não inventava de colocar minhoca e Madonna na cabeça.

Auau

Quem é de Porto Alegre conhece uma das maiores atrações gastronômicas dos pagos, depois da picanha mal-passada e do aipim frito da minha sogra: o Cachorro-Quente do Rosário. Quem é daqui ama e é fiel ao Cachorro-Quente do Rosário (e quem não é vai acabar sendo citado como exceção que confirma a regra por esta que vos posta, porque todo mundo é tarado pelo acepipe. Todo mundo mesmo, incluindo os monges tibetanos).

O Cachorro-Quente do Rosário consiste num megapãozinhozão de cachorro quente (ah, bom!) molengo, morno e quase úmido (parece nojento mas é ma-ra-vi-lho-so, juro), cortado no meio, e dentro vem uma tonelada de produtos, o suficiente pra alimentar uma família de etíopes por dois meses e meio, mais ou menos (contando o pãozinhozão daria pra meio ano, frouxo).

O Cachorro-Quente do Rosário vêm com ervilhas. Muitas ervilhas. Bota ervilha nisso. Tanto que sempre pelo menos uma acaba, ao final da refeição, grudada em alguma parte pouco provável do seu corpo, tipo a testa, dentro da orelha, no joelho e por aí vai.

Essa overdose de pontinhos verdes no meio do pão chega nadando num abundante e muito salgado molho de tomate, que, invariavelmente, pinganimim - e em você quando for a sua vez de botar a boca no cachorro - a cada mordida.

Sobre a referida piscina olímpica de molho com as ervilhas-nadadoras está uma camada de queixo ralado. Uma cobertura macia e amarelinha pras nossas queridas amiguinhas verdes cercadas de vermelho por todos os lados. Fica uma delícia, e a combinação de cores fica lindinha, bem gaúcha, oigalê.

Claro que o nosso amigo perro caliente vem com duas salsichas. Enormes o suficiente para nunca, jamais abandonar o pãozinho. Ou seja, nunca vai ser preciso morder só pão com molho, porque as salsichas efetivamente preenchem toda a extensao do pãozinhozão. E se não preencherem, é porque estão desalinhadas e basta empurrar com o dedo indicador pra colocar tudo no lugar. Só não esqueça de lamber o dedo depois da operação de alinhamento de salsichas.

Isso é o que o cachorro-Quente do Rosário tem. Parece simples, mas não é. Nunca nenhum cachorrinho chegou perto desse.

Ah, sim, tem mais uma coisa importantíssima. O meu melhor amigo à mesa - aleluia - não tem batatinha palha. Não é preciso, ao pedir uma tele-entrega, especificar que é SEM batata palha, e não se corre o risco da coisa vir COM a palha da batata palha.

Eu uivo quando ouço falar no Cachorro-Quente do Rosário. Começo a babar hidrofobicamente. Mas tenho que reconhecer que ele tem, sim, como tudo, o seu preço. E o preço é a perda de dignidade completa ao comer. Imposível comer o Cachorro-Quente do Rosário sem se besuntar, melecar, sujar, engordurar. Está fora de cogitação ter um embate com o pãozinhozão molengo recheado de molho pastoso e sair incólume. E mais: nunca pense em comer o Cachorro-Quente do Rosário com namorado novo. Seu relacionamento vai acabar, por mais que vocês se amem.

Quando o querido enxergar você mergulhando o nariz numa pasta ensebada dentro de um papel amarfanhado, quando ele olhar pro seu sorriso cheio de restolhos de pão mole no meio dos dentes, quando ele perceber que tem uma ervilha escalando a sua bochecha, quando seu príncipe notar que grossos pingos de molho caem incessantemente sobre as pernas da sua outrora Aurora e agora Fiona, por mais apaixonado que esteja, vai reconsiderar. E vai te dar um baita chega pra lá.

Só relacionamentos muito estáveis resistem à imagem da pessoa amada pega com a boca na botija, ou melhor, no Cachorro. Se você avançar o sinal e expuser seu querido à cena cedo demais, você vai acabar matando e comendo Cachorro a grito.

(Esse post é uma homenagem singela à venuss, que se encontra de dieta e que tem se alimentado de chá, ora verde, ora branco, mas sempre chato. Pobre venuss).